domingo, 6 de dezembro de 2009

Banheiros e Futebol

Minha primeira vez. A ansiedade emanava dos meus poros. Eu não sabia se olhava para as pessoas na fila ou se soltava a mão do meu pai e corria livre até os portões daquele enorme estádio de futebol. Tudo muito colorido. Aquele lado da fila pertencia ao meu time, que eu torcia ao lado do meu pai desde que me entendia por gente. Dava para notar gerações ali, desde torcedores velhinhos à meninos e meninas menores do que eu. Minha mãe tinha dito que futebol era coisa de gente doida, que perdia tempo sofrendo com nada. Mas, pra mim, aquilo era eu. Como se juntassem vários pedacinhos de mim e espalhassem por ali mesmo, em qualquer lugar.
Os portões se abriram e eu sentia a atmosfera do campo. Dava pra sentir o cheiro da grama sintética, o cheiro da fibra do banco... O jogo era às 16h. Ainda eram 15h. A confusão era grande, lógico, mas com um pouco de paciência conseguimos lugares legais e nos sentamos.
- Ansiosa?
- Um pouco. Pai, posso dar uma volta por aí? Eu realmente não vou aguentar ficar aqui esperando esse tempo todo... - olhei pro relógio. 15h05 ainda.
Ele fez um sinal estranho com a cabeça, que eu tomei a liberdade de aceitar como um sim. Num salto, me levantei e olhei pro resto do estádio. Fui descendo os degraus até o limite e respirei fundo ao encostar minha barriga na grade. Ahhh, que sensação inexplicável! Eu realmente ia ver meus maiores ídolos ao vivo! Nunca me interessei por ballet ou música, como a maioria das minhas amigas. Apesar de feminina, meu negócio era um campo com 11 caras de cada lado e uma bola. Não perdia jogos e ainda fazia parte do time do colégio. Não era a melhor, mas fazia o necessário para um posto de destaque.
Continuei me movendo lentamente, observando cada rosto que passava por mim. Inclusive os vendedores ambulantes, esses faziam questão de bater em mim toda hora!, e nem sequer pediam desculpa... Olhei o relógio mais uma vez: 15h15 agora. O tempo passava mais rápido enquanto eu me afastava, mas ainda era cedo. Dava tempo de passar pelo banheiro feminino.
Como já previsto, lá estava vazio. Dava pra ouvir a agitação lá fora, e ao me olhar no espelho, vi o rosto mais feliz do mundo. Meus cabelos ruivos bagunçados combinavam com a camisa do meu time, e minhas bochechas coradas indicavam o sorriso que insistia em não sair da minha boca.
De repente, uma moça entrou no banheiro. Parecia apressada, incomodada, eu não conseguia decodificar sua expressão. Fiquei olhando, acompanhando sua corridinha até fechar a porta e me deixar à deriva. Dava pra ver seus pés por debaixo da porta, seu tênis surrado e o começo da calça jeans. Lembrei do horário e me assustei quando vi que já eram 15h30. Por que o tempo agora resolvera correr? Virei-me na direção da porta e meu coração veio à boca quando não consegui abri-la. Olhei para a cabine onde a mulher estava e não havia nada ali. Onde estavam seus tênis ferrados? Respirei fundo. Está tudo bem, a porta emperrou. Isso é normal, nada de pânico, pensei. Vou abrir essa porta agora, sair e me sentar ao lado do meu pai, assistir ao jogo feliz e ir para casa. É, é isso que eu vou fazer. Tentei abrir a porta de novo: nada. Aparentemente, estava trancada. Talvez eles tranquem as portas antes do começo do jogo, mas não seria legal checar se ainda havia gente ali?
Com as mãos na cabeça, comecei a andar pelo banheiro. Havia a parte com os espelhos: pias grandes em cada parede lateral, uma de frente para outra. E havia a parte das cabines: um corredor fino, com algumas portas abertas, outras fechadas. Tudo muito verde e branco, exatamente como um banheiro de estádio aparenta ser.
- Ei, tem alguém aqui? - falei, deixando com que minha voz ecoasse. Onde mais estaria aquela mulher?
Ótimo, 15h45. 15 minutos pro meu time entrar em campo e eu perder tudo!, o desespero só aumentava com o tempo. Tentei a porta de novo, nada. Abri todas as cabines, nada. Olhei para o teto na esperança de encontrar algum buraco, nada. Soquei a porta gritando por ajuda, nada. Legal, eu realmente ia perder o jogo. Sentei-me num cantinho, abraçando os joelhos. Não consegui evitar as lágrimas. Passara de pessoa mais feliz do mundo à mais triste em segundos. Na verdade, em meia hora. Enterrei minha cabeça no joelho e fiquei por lá, ouvindo o som da minha respiração. Só eu, a gotinha de água que ficava pingando na pia e mais nada. Ping, ping, ping. Os barulhos estavam aumentando. Ping, ping, ping. E agora a agitação parecia estar mais perto de mim, como antes. Ping, ping, ping. Aquela era a voz do meu pai?
Abri os olhos. Continuava com a cabeça no joelho, mas algo do lado de fora estava completamente diferente. Levantei a cabeça e me deparei com o estádio cheio. Olhei o relógio e eram 15h55. Eu não estava no banheiro? Vi meu pai ao meu lado. Estava com a mesma expressão quando eu o deixei.
- Vamos lá, menina, os jogadores estão entrando no campo... - como que em sintonia, todas as pessoas se levantaram gritando. Com um pouco de dificuldade, me levantei também. Acabei esquecendo do episódio enquanto via o jogo e vibrava com o pessoal.
Na saída, meu pai resolveu esperar a multidão passar para depois irmos com calma. Ficamos sentados um bom tempo, felizes, apreciando aquele fim de jogo com gosto de vitória. Não havia sensação melhor... Descemos as escadas em direção ao corredor de saída e ao passar pelo banheiro, olhando lá para dentro, notei que o tênis surrado da moça ainda estava lá. Só que sozinho. Parado na porta.

19 comentários:

  1. Nossa ow.. Muito bom o rumo.
    Ficou ótimo.

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  2. nervosismo é o nome disto. deixa as pessoas assim haeuhae

    muito bom o texto!

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  3. Aah eu sempre vou no estádio
    sou cruzeirence apaixonadaaaa *-*

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  4. Bem louco esse conto aí, parece um sonho advindo de cogumelos alucinógenos :*

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  5. Ainn gente fikei angustiada, com ela presa no banheiro, que bom que deu tudo certo. hehehe... Adorei a história! BJO

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  6. Nóssa que legal isso! *-*
    Nunca fui em estádio e nem curto nada d futebol! rs
    beijos

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  7. Ficou ótimo o texto. :)
    Fiquei apreensiva junto com a garota...

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  8. parabéns pelo blog (:
    adorei seu post *----*
    jah estou te seguindo \õ

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  9. Nossa.Ansiedade e nervosismo.Se enquadram bem na situação.
    Adorei seu blog!
    bjos
    mah

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  10. Adorei a postagem, quando meu time entra em campo, realmente não dá pra imaginar o que acontece no meu cérebro. Mesmo que do meu sofá!rs.
    Eu me vi nessa menina, ótimo texto, parabéns.

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  11. que bom que gostou (:
    e obrigada por seguir (:
    Feliz Natal para você e familia ;D
    fiz um especial de natal lah , dá uma olhada ? ;p
    beijos :*

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  12. Nossa que dom!
    Viajei na narrativa do começo ao fim, suas palavras me envolvem mesmo (:

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  13. obrigada pelos votos de natal ;D
    eai , como foi seu Natal ?

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  14. AHSUAHSUASHUASHUA
    sou viciada em futebol, mas não rola jogo bom na minha cidade, é tenso. rs
    adore.
    bjs

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  15. Putz! tava aguniada aqi!
    tu me prendeu ao texto de uma forma que nenhum blog ja fez cmg! ameeei! te seguindo guria!
    beijos

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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Todo mundo merece um comentário legal :)