quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Traficante ou ladrão?

Eu não costumo perder a paciência facilmente. Ou pelo menos acredito nisso. É claro que alguns fatores podem alterar meu estado de paz e tranquilidade, como o querido e amável calor. Não lembro que dia da semana era exatamente, mas só sei que o maldito calor estava insuportável e a única coisa que se passava na minha cabeça era: preciso de um banho.
Arrumei minhas coisas e fui em direção ao banheiro, quando, exatamente no meio do caminho, o interfone tocou. Como ele estava ao meu lado, ergui o braço e coloquei aquele protótipo de telefone no ouvido.
- Pois não?
- Quem fala? - o porteiro perguntou e eu respondi meu nome educadamente - Então, sua amiga Isabel tá aqui querendo subir. Posso liberar?
Mas quem é vivo sempre aparece!, pensei. Isabel estava sumida desde quando começou a namorar de novo.  Nunca entendi exatamente o porquê dessa fixação dela com homens. Era como se não conseguisse viver sem eles. Mas fazer o quê, ela era minha amiga, eu estava com saudades e num súbito impulso, liberei sua entrada. Não deve demorar.
Arrastei-me pelo resto do corredor até a porta da frente, passando pelo banheiro, olhando-o com olhos melancólicos. Ahh, meu querido banho. Mas continuei o caminho mesmo assim, abrindo a porta e esperando ansiosamente que a cabecinha da minha amiga brotasse ali no corredor. Alguns minutos depois, ela apareceu, mas ao invés de entrar e acalmar minhas adoráveis cadelas que estavam a latir sem parar, ela ficou de longe me olhando de um modo totalmente sem graça. É claro que eu não consegui reprimir meu pensamento de entra logo, porra! e eu gritei (já que os latidos estavam impossíveis):
- ENTRA, ISABEL! TÁ ESPERANDO O QUE?
Sorrateiramente, ela sorriu, olhando pro corredor vazio. E então, de repente, eis que surge a maior aberração da natureza que eu já vi com os próprios olhos: o novo namorado dela. Ok, talvez eu esteja exagerando. Ele não é tão feio assim, mas pra começar, ele foi entrando pra dentro da minha casa como se nós fossêmos amigos há anos. Que tipo de pessoa faz isso no dia que te conhece?
Tentei esconder meu espanto e principalmente, meu queixo caído. Olhei pra ela pedindo explicações silenciosas, mas ela apenas mexeu na sua franja lisa escorrida e entrou sorrindo tentando acalmar as cadelas.
Ok, eu pensei, talvez isso demore um pouco mais do que eu imaginei. Respirei fundo e segui minha amiga até o sofá. O silêncio era constrangedor. Ela não vai apresentar a criatura pra mim? Pigarreei, joguei indiretas, nada. Ela continuava a falar de si mesma como se fosse a única coisa que importasse no momento.
- ... fui lá no salão hoje e meu cabelo ficou ótimo, tá vendo? - ela gesticulava, mexia no cabelo, se olhava no espelho, empinava o corpo para o rapaz que estava mais interessado em reparar na minha casa do que nela. Eu só conseguia olhar pra'quela cena sem saber como agir.
- Esse cachorro não morde não, né? - fui despertada pela voz masculina vinda do sofá. Olhei pra ele e não consegui segurar o riso: ele estava me perguntando se a cadela mais panguá do mundo mordia? Inacreditável!
- Não! - minha amiga respondeu na minha frente, rindo - Claro que não! Essa aí não morde nem osso, quanto mais você...
Foi exatamente nesse segundo que ela notou que ainda não nos tinha apresentado. Um pouco sem graça, mas ainda preocupada com o cabelo, ela o fez de qualquer jeito, como se não tivesse tanta importância.
- Prazer, - eu disse, tentando ser simpática. Apesar de todos os meus poros gritarem: QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ FAZ NO MEU SOFÁ?, eu simplesmente passei a escutar o que a minha amiga falava enquanto ele olhava cuidadosamente os móveis, quadros e tudo mais que estava na minha sala.
- Menina, você viu o ponto de corte do meu curso na faculdade? Achei baixíssimo! Acho que vai dar pra passar numa boa... Esse ano eu estudei tanto, meu Deus! Não aguento mais ver caderno na minha frente...
- Pois é, nem eu.
- E esse calor? - ela prendeu o cabelo - Não tá suportável!
- É verdade.
- Encontrei sua mãe lá embaixo... - ela soltou o cabelo - E ela disse que o meu cabelo ficou ótimo! O que você achou? Tá super liso e macio, olha só...
- Realmente, - eu disse, tocando as pontas de seu cabelo - tá macio mesmo.
- Foi super barato! Minha mãe até animou de pagar mais ve...
- Posso ir na sua varanda? - o garoto perguntou, interrompendo minha amiga que não parava de falar e é claro, chamando minha atenção.
- É claro, - eu disse, desconfiada - a vista é ótima...
Ele se levantou rapidamente e foi até a varanda. É claro que a minha amiga continuou a falar, mas eu só ouvia algumas partes. Meus olhos se encontravam nele, no que ele observava, pra onde ele ia. Eu não podia simplesmente ignorar a cara de traficante e/ou ladrão que ele tinha, certo? Fiquei apreensiva. Provavelmente já estava na hora deles irem. Olhei para o relógio. Mais cinco minutos e eu começo com as indiretas. Depois de olhar cuidadosamente cada metro quadrado da minha pequena varandinha, ele saiu em direção ao corredor e deu uma bela olhada para os quartos lá dentro. Isso mesmo. Com a maior cara de pau do mundo, ele ainda olhou o banheiro e voltou a sentar-se no sofá. Aquilo tinha sido o cúmulo.
- Então, Isabel, eu ia tomar banho na hora que você tocou o interfone! Acredita que eu ainda tenho um trabalho pra fazer? - Sim, a parte do trabalho era mentira.
- É mesmo? Mas você não tá de férias? Eu tô! Tô nem mais indo na aula, é muito inútil porque nunca tem professor... Daí resolvi estudar por contra própria em casa... Assim posso acordar a hora que quero e... - ela não desconfiava que eu só queria que ela fosse embora com aquele marginal da minha casa.
Eu nunca me importei muito com os meus amigos virem pra minha casa sem avisar. Mas quando se trata de um pseudo-traficante-ladrão é necessário tomar uma providência. Sem hesitar, escolhendo meu sorriso amarelo preferido e a minha cara de pau não muito usada, soltei:
- Isabel, acho que tá na hora de você ir embora!
- Por que? - ela me perguntou, assustada.
- Eu preciso tomar banho, meus pais vão chegar e o seu namorado tá deixando minhas cadelas nervosas!
- Tá mesmo?
- Ahn, não. Mas que seja, amanhã você volta, eu tô realmente ocupada e...
- Tá bom, tá bom, já tô indo! Me leva até à porta?
Com prazer, pensei. Abri a porta pra ela passar com seu novo namorado, mas conhecido por mim como futuro traficante e/ou ladrão. Não contente em somente ir, o rapaz nem ao menos me deu tchau. Minha amiga me deu mil tchaus e mandou duzentos e noventa e sete beijos pra família toda, enquanto ele a puxava pela blusa em direção ao elevador.
Ao fechar a porta, encostei nela e percorri com os olhos rapidamente o espaço a procura de algum objeto em falta. Não senti falta de nada e encontrei apenas a minha irmã, parada, com os olhos arregalados. É claro que ela estava tão assustada quanto eu e após fazermos os comentários mais verdadeiros sobre o que acabara de acontecer, eu me contentei em respirar fundo e ir direto para o meu tão precioso e sonhado banho.

12 comentários:

  1. E dizer que isso aconteceu na minha casa e pior com minhas BEBÊS sozinhas!! Socorro....

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  2. kkkkk
    Hilário rs
    Dexa o cara pensar ki isso é pra ele
    hia4EIOHaEIHaEIH$hiAEHIAEHIA
    Veremos entao si ele é Traficante e/ou algo do tipo rs

    Excelente história !

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  3. Mariah!!!! Que sinistrooooooo!!!!!!Mais uma coisa te falo PQP, vai escrever bem lá na China...Tenho a certeza que ainda vou ler um livro seu publicado, com um sucesso absurdo e numa noite de autógrafo...será "BEST".....
    Parabéns e continue assim minha ídala....rsrsrs
    mil bjosssss "SAUDADES"
    Ana Lucia

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  4. kkkkkkkkk

    Demais!!

    Deve ter sido muito constrangedor e chato tudo isso..

    Bjoo

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  5. Só falo uma coisa, esse cara tinha cara de cachorro do mal AHUHAHUAHA
    so eu e vc passamos as piores coisas da vida né ?
    mas sempre juntas ! te amo, minha escrivinhadora! UHAUAUHAHUUHAUHA

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  6. Ri litros. Acho que não riria assim se fosse comigo, mas que foi engraçado, foi, rs.
    Beijo :*

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  7. TENSO! Tudo bem que eu já fui aí sem avisar, mas acho que foi melhor que isso, pelo menos acho que não tenho cara de futuro traficante ;D

    <3

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  8. - Nossa, vc tem jeito pra coisa mesmo! Sério, nessas horas tem de manter a calma. Pra mim não é fáciL. Já fui assaltada 3 X e nem sei como consegue escrever sobre isso. Tento me afastar o possível disso. Mas só demonstra o quanto é talentosa.
    Está linda na foto do perfil, 1000 bjus

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  9. Antes de qualquer coisa, por aqui rimos muito! Caraca que situação! Pensei logo... sem noção...completamente sem limite...não importa amiga ou namorado!!!! Depois pensei, como não poderia deixar de ser, afinal filha de vó Cida "supunheta" muito(citação de seu vô)..."ESTRANHO"... pseudo-traficante-ladrão, o ESTRANHO! E só depois compreendi, isso na minha fantasia, que muitas vezes abrimos a porta para o que p'ra nós poderia ser conhecido e nos estatelamos com um solene ESTRANHO! Nesta minha vida, que já não é tão pouca assim, caí nessa "esparrela" muitas vezes e me deparei com o tal do ESTRANHO. Decepção...medo...não vou dar conta... Depois, tudo passa e aprendemos mais um pouquinho. Achei bem legal a conclusão do feito. Afinal, nada melhor do que cair nos braços da água!!! Feminina, protetora e absolutamente prazerosa!!!!
    Muito bom... Adorei seu conto-ficção-realidade!!!! Bjinhos

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  10. De agora em diante é melhor falar no protótipo de telefone e dar uma desculpa,não posso dar a dica por que senão todos saberão através do blog,cuidado meninas!!!!!!! Tá certo que o cara não era isso que vc imaginou, mas vai que......
    Bjs

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  11. É filha, "fica esperta e não da mole", mas como disse o tio Ivano o tal prototipo ainda é eficiente nestes casos. Bjs do seu velho.
    Ps.: Continua escrevendo assim que vc vai longe.
    Adorei.

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  12. Caran... que medo! Fiquei meio arrepiada ahuahua

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Todo mundo merece um comentário legal :)