quarta-feira, 18 de julho de 2012

Noite fria e chuvosa de dezembro

- Você gostaria de ajuda?
Olhei pras compras. Olhei para ele. Olhei para os braços dele. Sorri.
- Você costuma vir sempre nesse supermercado?
- Não, é muito cheio.
- E não tem - opa, desculpa - coisa melhor do que estar junto a outras pessoas?
- Tudo bem, foi só um esbarrão. E sim, é bom estar junto, mas de pessoas que conheço...
- Então você é tímida?
- Ah, não.
- Certo, se não é tímida, também não é extrovertida.
- Nossa, que rua cheia. Mas eu prefiro dizer que sei - a senhora quer comprar uma paçoca? Cinco por um real! - me portar.
- Mas carregar compras, não.
- Foi você quem ofereceu ajuda!
- Eu sei, tô só brincando. Não precisa ficar brava.
- Alô? Alô??? Ronaldo, não tô te ouvindo!
- Não estou brava.
- Mas parece.
- Eu sempre pareço o que não sou.
- A promoção é imperdível! Vocês não podem deixar de conferir!!!!
- Você é profunda.
- É só impressão.
- Parece que eu te conheço de outras vidas...
- Eu já disse, Roberta! Não vai dar pra pegar o ônibus agora!
- Você tá indo pra onde?
- Pra onde você for.
- Pra minha casa?
Ele me deu um sorriso sincero. Profundo. Arrepiou-me por inteira!
- Se você me convidar...
- Tem certeza que essas compras não estão pesadas?
- Se ofereci ajuda, é porque sou capaz.
- Certo.
- Que ventania.
- Você gosta de vinho?
- Não bebo.
- Como não, rapaz? Você está na flor da idade!
- Não bebo com qualquer uma, eu quis dizer.
- Ah, então você é seleto.
- E aí, André?
- Opa!
- Você é conhecido por aqui?
- Um pouco.
- Costuma ajudar muitas garotas com as compras?
- Só as bonitas.
- Sábado, na balada, a galera começou a dançar e passou a menina mais linda... 
- Não aguento mais essa música. Você se importa se formos a pé? 
- Sim. Tá um pouco pesado.
- Eu disse. Pode me dar metade, eu te ajudo!
- Não precisa, eu pago o táxi.
- Mas você mal me conhece!
- Táxi? O senhor quer um táxi? Táxi! 
- Sim. Mas estou conhecendo agora.
- Pra onde vocês estão indo?
- Rua itaboraí, número 30.
- Então você mora no bairro Ventanias?
- Sim.
- Gosto de lá.
- Nossa, nossa, assim você me mata! Ai, se eu te pego... 
- De novo?
- Espero que no meio dessas compras esteja nosso vinho.
- Então você aceitou meu convite?
- Ai, ai, se eu te pego! Delícia, delícia...
-
Sim, começou a chover e eu preciso de um lugar pra ficar.
- Ah.
- Tá frio.
- É.
- Ficou chateada?
- Deu R$ 7,30.
- Aqui está, obrigado. Ei, espera! Vou te ajudar a subir com isso!
- Não precisa, não está pesado.
- Já era.
- Pode deixar na mesa da cozinha.
- Casa bonita.
- Obrigada.
- Quer que eu abra o vinho?
- Não.
- E o seu convite?
- Que convite?
- Não se faça de boba.
- Não tô me fazendo de boba.
- Não tem graça, já tô indo.
- As taças tão no armário.


...


- Seu beijo é bom.
- Eu sei.
- Eu também. Desde quando olhei pros seus braços. 




3 comentários:

  1. Your stories are very believable and I can even relate to some of them, but this one in particular can make anyone feel like they were there (even if just passing by.)

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  2. Muito envolvente! e muito interessante e jeito como mais uma vez vc consegue transmitir emoções!

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Todo mundo merece um comentário legal :)