domingo, 2 de setembro de 2012

Oposições

         Sinto falta da tua barba roçando no meu rosto. Do teu sorriso bobo quando me via. Do teu jeito de bravo quando eu te pedia pra pegar água pra mim. Da forma como tu me olhava: sempre tão intenso, tão calmo e tão acolhedor. Eu reclamava o tempo todo, é verdade, mas nós dois sabemos que sempre foi assim. Sempre tão difícil. Sempre tão... Desleixada? Eu me esforçava, vai. Tu adorava cuidar de mim quando eu ficava doente, lembra? A preocupação em seus grandes olhos negros era grande. Eu queria morar neles. Queria sugar você todinho, pra dentro de mim; me inundar em você, me afogar, me perder. Imensidão desgraçada! Me perdi, e agora, tô na merda. Não literalmente, tu sabe. Tenho casa, família, amigos, dinheiro. Mas não tenho tu. Dane-se o meu português desleixado, tá? Não vem implicar. Tô sendo bonita, me entende! Eu sei que no fundo tu tá sorrindo, pensando "Mas você não tem jeito mesmo, né, Eduarda?". E daí se eu não tiver? Tu não pira com a ideia de ser livre? Pegar umas estradas desconhecidas e fugir pra bem longe desse mundão tão sufocante? Tu não precisa ser tão velho comigo. Cadê teu eu verdadeiro? Bota logo essas botas e bora incendiar isso tudo!
       Tá vendo porque a gente não rolou e nem nunca vai rolar? Tu é covarde. Fica aí com teu mimimi tão massante e previsível. "Eu não posso largar tudo por você...", "E o nosso futuro?", "Vamos viver de quê?"... de vida, cara! De mim, de você, desse calor que eu sinto aqui dentro do meu peito quando te vejo concentrado em alguma coisa. Dessa vontade de me fundir a você, de ser mais pra te merecer. É disso que eu quero viver. Odeio a forma como tu revirava os olhos quando eu tava falando sobre esse assunto. Ou corrigia meu português errado quando tava nervoso. Nunca entendi direito o que rolava entre a gente. E acho que não terei mais chances de tentar, né? Dane-se. Tá vendo como eu tô bonitinha? Nem falei palavrão. Tô me controlando pra tu não me chamar de... Como era mesmo? Xula. Eu até tento, mas a verdade é que eu não sou das tuas e tu sabe disso. Até veio de garanhão pra cima de mim, mas não rolou. Gostei do teu jeito sério e intelectual. Meu oposto, sabe como é.
        Mas não bateu. Não vai bater. Não quero ficar dando murro em ponta de faca (falei bonito!) e nem quero que tu perca teu tempo comigo. Só passei aqui pra te falar que eu tô aqui ainda, cara, e que tu sempre foi especial. Ainda é. Foda-se, não sei mais o que falar. Sinto a tua falta serve?
     

2 comentários:

  1. Eu sou esse cara. Infelizmente... ou felizmente, vai saber! E eu gosto de meninas que nem essa Eduarda, infelizmente... ou felizmente. :D

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  2. nem sei o que dizer... cada vez melhor!

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Todo mundo merece um comentário legal :)