quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sobre cavalheirismo

          Entrei no ônibus: atordoada, desastrada e distraída, como sempre. Passei por aquelas pessoas que insistem em ficar paradas perto da porta, atrapalhando toda a movimentação dentro do veículo, e como todos os assentos já estavam lotados, me encostei naquele espaço reservado a cadeirantes. Olhei para as pessoas que ali estavam, mas não havia nada de diferente. Pessoas dormindo, pessoas olhando a paisagem pela janela, pessoas conversando, pessoas vidradas no celular... E um par de olhos me encarando. Eu não conseguia ver o rosto daquele ser por completo, mas aquele par de olhos já me conquistara. Eram negros e intensos, me encaravam como se eu fosse a única ali dentro. Eu tentava não encarar de volta, mas sabe como é, né? É praticamente impossível.
       Alguns minutos depois, o ônibus parou e algumas pessoas desceram. Lugares ficaram vagos e enquanto eu me encaminhava para me sentar, eu sentia que aqueles olhos continuavam a me fitar. Será que eu o lembrava alguém? Será que ele era um psicopata ou apenas tinha me achado absolutamente linda naquela tarde quente de inverno? Não sei dizer. Não cedi a curiosidade de saber se ele ao menos era bonito e permaneci concentrada olhando pra frente. Mas a vida é engraçada, né? O próximo ponto era o dele! Quando dei por mim, lá estavam aqueles olhos, de novo, me observando. Desta vez, estávamos de frente: eu podia ver sua camisa vermelha, seus cabelos loiros escuro, sua altura, seus músculos bem definidos. Podia sentir que ele queria sorrir, mas estava tão sem graça quanto eu. Seus olhos sorriam! Podia ver o quanto ele me apreciava e pela primeira vez em muito tempo me senti bonita. Com esse pensamento bobo, sorri, desviando o olhar.
     Ele desceu do ônibus. Olhou pra trás e sorriu pra mim enquanto eu ia embora toda reflexiva. Eu não sorri porque obviamente fiquei desconcertada demais para reagir a tempo. Ainda existem cavalheiros por aí, que nos conquistam pela simplicidade e não nos chamando de "gatinha", "ô lá em casa" e derivados que eu, particularmente, acho ridículo. Obrigada, menino-bonito-do-ônibus, você fez meu dia.

Um comentário:

Todo mundo merece um comentário legal :)