sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Vivendo perigosamente com papai parte I

Verde. Os vidros estavam completamente fechados, mas eu sentia o vento passando por nós, do lado de fora do carro. Curvas sinuosas, morros e alguns semáforos deixados pra trás. Não estávamos há muito tempo na rua, mas com o papai era sempre assim. Só tinhamos uma opção: correr junto.
Sua inspiração tinha um nome, é claro, e antes que vocês adivinhem, contarei: Ayrton Senna. Tudo começou quando ele se apaixonou pela Fórmula 1. 1970, Emerson Fitipaldi ganhando pela primeira vez, fazendo com que meu pai se apaixonasse por aqueles torneios onde quem ganhava, era quem acelerava mais rápido. Os anos foram se passando e cada vez a paixão aumentou. Ayrton Senna surgiu e agora as corridas eram acompanhadas com a emoção de um jogo de futebol. Sua vontade de pegar um carro e fazer o mesmo era completamente visível, notava-se em seu olhar acompanhando as voltas intermináveis da própria tv lá de casa.
- Será que você podia ficar quieta? Eu quero ver a corrida! - era o que eu mais ouvia quando estávamos em casa, assistindo àquela chatice matinal de domingo. Eu realmente não via a mínima graça naquele monte de carrinhos coloridos correndo em circulos. A única coisa que eu queria era voltar a ver meus desenhos que - por obra do destino - passavam exatamente no mesmo horário.
Eu ainda era pirralha quando Ayrton se foi, mas lembro-me vagamente da tristeza em seus olhos. Da tristeza do Brasil inteiro. Mas a morte - ou qualquer outra barreira - não impediria meu pai de correr.
Todos à bordo, essa era a parte preferida do papai: hora de colocar o capacete e se transformar num Ayrton Senna nas ruas de Juiz de Fora; ligar o carro, passar primeira marcha pisando na embreagem, acelerar e sair da garagem. Era seu momento preferido do dia. Não falava enquanto dirigia, apenas curtia a sensação de poder. Acho que era isso que o carro lhe dava. Sem contar suas ultrapassagens extremamente arriscadas, sempre nos fazendo descarregar boas quantidades de adrenalina. Com ele era tudo no limite, tudo num piscar de olhos. Em certos momentos tudo estava bem, em outros estávamos entre um ônibus e um caminhão, papai empolgado ultrapassando os dois numa descida complicada. Ou então estávamos esperando que tirasse um fininho dos carros próximos, que fosse fechado e saísse maravilhosamente bem daquela enrascada. Uma após a outra, passando por suspiros e risinhos nervosos de todos os lados do carro.
Vermelho. Parados num morro - sinal em morro é coisa de mineiro, não se desesperem com a ideia surreal - e esperando ansiosamente a troca de cores lá em cima. Um carro parado ao nosso lado cuja marca não me lembro muito bem agora. Verde. Ouvi o som do motor acelerando e numa curva muito rápida, meu pai quase esbarrou no carro ao lado. Com uma jogada digna de um piloto de F1, não batemos. Nem ao menos chegamos perto do outro carro. Eu estava de olhos fechados - como sempre, achando que dessa vez seria o fim - e só notei que estava tudo bem quando descemos empolgadamente o final do morro e então, num suspiro rápido de alívio, disse:
- Vivendo perigosamente com papai, parte I. Sintam-se à vontade.
Risadas ecoaram de todos os lados do carro, inclusive a ideia desse texto. Declarar de forma engraçada o que passo todos os dias com um pai que se acha um piloto de F1 é mais difícil do que se parece, principalmente porque é impossível passar toda a adrenalina pro papel. Mas se vocês querem saber, o que eu mais gosto nesse lado irreconhecível do papai, é a confiança. Querendo admitir ou não, papai sabe dirigir - e muito bem.

33 comentários:

  1. Ai,Ai...que perfeição de sentimentos...é assim que também me sinto.........kkkkkkkk

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  2. Muito, muito fofo! Ei tem selinho lá no blog pra vc! ^^

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  3. Olha, 50% disto é um pouco de exagero, eu como Pai, apesar de estar usando a conta da Mãe, digo toda estória tem um pouco de ficção, neste caso eu julgo no 50%. Quem não exagera um pouco no trânsito de vez em quanto, atire a primeira pedra, mas cuidado com o vidro, kkkkkkk.

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  4. Sério, ele vai acabar te matando u_u AHUAHAUHAUHAUAHUAH Eu senti o receio O TEMPO INTEIRO, mas o vi como um tipo de psicopata das pistas. Já pensou em levá-lo pra correr de kart?

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  5. Uoww,deve dar um nervoso ein!
    Mas ja passei coisas engraçadas no carro com meu pai..rsrs
    bons momentos esses simples,que se tornam textos interessantes no blog =D

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  6. Ainda bem q meu pai naum dirige... se naum seria perigoso tbm haha

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  7. HEHE³ os pais, meu pai é um piloto de avião no carro HAUHAUHAHUAHUAHUUHAHUA' brincadeira.

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  8. AhAhAhAh!!!! Conheço cada movimento, aperto dos olhos, o coração na boca e por fim, o enorme "cagaço"... Esse seria o fim. Melhor mesmo era tentar dormir o percurso todo, p'ra ver se chegava mais rápido! Mas menina, no final das tantas, acho que o "Fitibunda" era incrível! Seguro mas abusado, volante firme e uma enorme percepção de todos que dirigiam à sua volta!! Pois é, como pai...surge o filho!!! Faltou você postar o fato de que se dependesse dele o motor estaria completamente dominado. Não havia um único que se mantinha inteiro, tamanha sua curiosidade! Carro, avião, relógio... tinha motor, dançava!!! Não adianta querida, quando é paixão, é muito forte mesmo.

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  9. Que máximo o seu pai! *-*
    Meu pai dirige muito bem também, mas não faz o estilo "perigo"... rsrs

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  10. - Ayrton Senna me faz lembrar do meu pai...me lembro de quando ele morreu. Esse texto me fez lembrar muito dele, nossa..muito lindo. Ainda nãoli o livro do ladrão de raios, só depois de ler é que vou poder te dizer o que achei. Então, estou anciosa pelo livro. Bjks

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  11. nossa que perfeita a sua histórial, menina da para você escrever um livro com histórias iguais a essa ! nossa muito bom !

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  12. nossa, lembro que meu pai fez uma pequena barberagem quando estávamos aí em juiz de fora, fiquei com um pouco de vergonha, mas pelo jeito você tá acostumada com a adrenalina automobilística [?] haha <3

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  13. Mariah, você escreve perfeitamente bem.
    Quem dera eu escrever desse jeito!
    Invista nisso, pois você tem futuro :)
    Beijo

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  14. Acabei de colocar algumas das fotos, olha la!

    Beijos ;**

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  15. - OBG pela visita..estou anciosa pelos livros. Já falei que meu pai é fã do ayrton né? ele até hj curte falar dele....rsrsrs
    Bjão

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  16. haha' meu pai também adora ver Fórmula 1...
    rs
    bjos
    mah

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  17. Que bom que ele dirige bem, né?
    Talvez seja por isso que você ainda está viva hoje HUSEHUSEHUSEHUSEHUS

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  18. Esse texto me lembrou a minha tia, na verdade não a conheci, mas ouvi muito falar dela. Era uma louca desvairada por carros, corridas, fórmula 1, e o ídolo principal dela era o Ayrton Senna. Aliás, foi ela que influenciou meus primos (bem mais velhos que eu, qe a conheceram e já andaram em aaaalta velocidade com ela *-*) a verem toda santa manhã de domingo a F1, e o que eu me lembro das manhãs de domingo da minha infância é basicamente isso... Eu chegar na casa da minha (outra) tia e ver F1 com minha família. Antes eu entendia muito bem disso, até hoje eu gosto muito.. mas nada me dá coragem pra levantar cedo só pra ver corrida. Se bem que esses dias estava mesmo pensando em ver qndo anunciou no comercial. *-*
    Adooro tanto aqui <3


    Bom, agora chega né?! O comment tá um texto quase. :P

    :*

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  19. Ameeeei o texto, super divertido. Meu pai não curte fórmula 1, mas também tem mania de dar uma de Senna. Tô de volta! Beijo.

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  20. Bem legal a história! =)
    beijos

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  21. kkkkkkk.
    cuidado que isso dá filme
    kkkkk


    vim encher o saco como sempre,
    abração
    e o povo no meu blog forneceu versos para o Nosso AXÉ..não se assute com isso ao visitar meu blog kkkkkk
    e feliz dia da meteorologia que acaba com a gnt...

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  22. Nossa,...adorei, uma bela pespectiva de vida,..
    inté

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  23. uahaua eu nunca vivi perigosamente com o papai =D

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  24. HAHA, eu detesto F1. Perca de tempo na minha concepção, rs!
    Legal o conto, obg pela visita
    beijos

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  25. uau! vc escreve muito, mais muiito bem!

    odeio formula 1, meu pai adora (:

    beijos, isa.

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Todo mundo merece um comentário legal :)