sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sendo direta

- Alô?
- Oi, João...
- Bruna? Oi linda!!! Como tá o seu feriado?
Animação em doses cavalares costuma me irritar. Eu estava sendo fria com ele - e isso é completamente óbvio - mas ao invés de perceber, ele prefere bancar o simpático-que-agora-se-preocupa-com-o-meu-feriado. Respondi, sem enrolar muito:
- Hmmm... Normal, sabe como é... Parado...
- Você e essa mania de ser velha! Tem que sair mais, garota!
Ohhhh, senhor simpático de novo. Engraçado esse comentário dele, principalmente porque a única coisa que falta para que eu saia mais de casa é um convite dele. Coisa que eu estou esperando há semanas... Ok, dias. Que seja!, resolvi ser mais agressiva:
- Hahahah, também acho. Inclusive vou ao cinema amanhã.
- Sério? Com quem?
- Ah, com um carinha aí...
- É mesmo? - Pude sentir todo o ânimo que estava na conversa se esvaindo rapidamente. Seria ciúmes? Esse rapaz é capaz de demonstrar algum sentimento???? - Legal.
Sempre odiei ser tão impulsiva. Passo grande parte do meu tempo tentando controlar essa característica tão forte que tenho. Tentando me transformar em alguém que pare para pensar. Mas quem disse que consigo? Quando dei por mim as palavras já tinham sido vomitadas na cara dele:
- Legal mesmo seria se eu fosse com você. Mas você nunca me convida, né? Tava pensando justamente nisso! No quanto eu queria que você estivesse no lugar desse pateta com quem vou ver um filme sem graça!
- Uau, Bruna...
- Uau, nada! Você sabe como eu me sinto, eu sei como você se sente... Eu só não quero ficar (mais) cansada de tanto esperar! Se você não quer...
- Eu nunca disse que não quero...
- E nem que quer! Esse é o problema!
- Eu só...
- Chega. Não tenho mais nada pra falar com você.
- O pateta chegou?
- Talvez.

Desliguei o telefone, com raiva, e fui me arrumar. Pateta ou não, o novo rapaz merecia uma chance. Não era exatamente quem eu queria. Aliás, ele nem mesmo me lembrava o João. Mas merecia uma chance. E eu me forcei a fazer isso. Desci as escadas pensando seriamente se desmarcava ou não, quando dei de cara com um rapaz sentado nos últimos degraus. Diminuí o passo, revirando os olhos, pensando "Ah, não, provavelmente algum amiguinho do meu irmão esqueceu que ele viajou!". Sem olhar para o rosto do ser que estava me atrasando, eu disse:
- Ei, meu irmão viajou. Cai fora!
Foi aí que gelei. Não podia ser.
- João?
- Acho que você me...
- Confundi, é. - eu disse, ainda meio incrédula - O que você tá fazendo aqui?
- Uau! Que jeito meigo de me receber!
- É só que... Eu não... É, eu não esperava te... Encontrar aqui.
- Tudo bem, não precisa se explicar. Eu sei que fui um babaca...
- Não me diga?
- Ei, calma... - fiquei quieta, segurando meu lado impulsivo. - Eu só tô aqui pra recuperar o tempo perdido, sabe como é... Você quer ir ao cinema comigo?
- Hoje?
- Agora!
Filho da puta!, pensei. Tive que dar uns gritos pra ele finalmente tomar uma atitude. Será que ele só tomou porque falei ou porque ele realmente me quer? A dúvida me dilacerava por dentro. Dançava no silêncio que se plantou logo após seu convite. Cobrava-me uma resposta...
- Sinto muito, João, mas não vai dar. Lembra que eu já tinha compromisso hoje?
- Mas não era um cinema com um pateta?
- Ainda é. Mas não posso fazer nada se ele mereceu uma chance de deixar de ser pateta.

Saí andando, sem olhar pra trás, decidida apenas por fora. Por dentro, eu estava em frangalhos. Queria voltar, abraçá-lo e beijá-lo, dizer olhando em seus olhos o quanto eu esperei que ele finalmente tomasse uma atitude. Mas nada que é bom vem facilmente, não é? E a gente tem que lutar. Pois bem, que comece a guerra.

Um comentário:

  1. ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei! continua postando, Mariah, estamos com saudades dos seus textos lindos e super - realmente super - criativos *-* quero mais posts como esse!

    ResponderExcluir

Todo mundo merece um comentário legal :)